
Israel Aparecido Gonçalves
O vencedor da guerra entre Rússia e Ucrânia, iniciada em 2022, já está claro; não é nenhum dos dois países de forma explícita, mas os EUA. O presidente americano, Donald Trump, quer as terras raras da Ucrânia e pressiona o presidente do país Volodymyr Zelenskiy a ceder território para Putin e a realizar eleições.
A pressão de Trump fica evidente com a recente declaração de Zelenskiy, que afirmou estar disposto a realizar eleições mesmo sob lei marcial, o que revela menos uma convicção interna e mais a influência de Trump. Os líderes europeus não concordam com Trump, especialmente a Alemanha, mas podem fazer pouco para mudar o cenário construído na Ucrânia pelos EUA.
Trump acusou o governo ucraniano de adiar o processo eleitoral sob a justificativa da guerra, insinuando que a democracia do país estaria em risco. Zelenskiy, necessitando do apoio dos EUA, afirmou em seguida que as eleições devem ocorrer entre 60 e 90 dias caso haja garantias de segurança. Ou seja, o cenário para uma eleição é quase impossível, e todo esse debate é motivado pela ansiedade de Trump por mais terras e poder na região.
Devemos destacar que a Ucrânia está sob o regime de lei marcial. Essa legislação proíbe eleições durante sua vigência. Alterá-la de forma apressada pode levantar questionamentos sobre a legitimidade e a segurança do pleito, bem como sobre interesses externos envolvidos.
A interferência de Trump na política interna da Ucrânia, por mais hipócrita que seja, toca em um ponto sensível: até que ponto um governo pode se manter sem eleições regulares, mesmo em situação de guerra? Democracias sólidas precisam de legitimidade periódica, mas também necessitam de condições reais para garantir um processo eleitoral justo e seguro. Esse debate, porém, não é inédito no cenário internacional. O Brasil já participou diretamente de discussões semelhantes quando, sob a égide da ONU, auxiliou o Haiti a organizar eleições (2006, 2010 e 2011) em meio a um cenário de instabilidade extrema.
Retornando à Ucrânia, o que fica claro é a tentativa de Zelenskiy de servir a dois senhores ao mesmo tempo: ao avassalador desejo de Trump pelas jazidas ucranianas e ao compromisso com a democracia (do Ocidente), ao tentar promover eleições em um contexto de guerra. Caso haja eleições na Ucrânia em 2026, o vencedor será Trump e Putin poderá fazer seu desfile nas regiões invadidas na Ucrânia, de forma tranquila.
Israel Aparecido Gonçalves é cientista político e escreve sobre Relações Internacionais, Conflitos e Direitos Humanos. Atualmente é doutorando em Sociologia e Ciência Política (UFSC) e Mestre em Ciência Política (UFSCar). Seu livro mais recente é “Sociologia e Direito – Volume 3”, lançado pela Editora Periodicojs em 2025. Instagram @sou.profisrael
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