
Durante a semana passada assistimos por uma parte da imprensa limeirense uma enxurrada de ataques aos assentados no Assentamento Elizabeth Teixeira no Horto Florestal de Limeira. Todo esse ataque foi motivado pelo decreto federal que destina a área do assentamento para uso e ocupação das famílias que ali estão desde 2007 produzindo alimentos e ganhando seu sustento.
Representante dos assentados Elisdete Beckman vem sofrendo ataques preconceituosos por uma parte da mídia local por ela viver no acampamento e ser Pedagoga e Advogada. Fui ao assentamento conversar com Elisdete para conhecer sua trajetória no movimento e também vivenciar o dia a dia da comunidade de agricultores que lá residem.
NJ- Como você veio para o Assentamento?
Elisdete-Eu meu esposo e meu filho ainda bebê morávamos num cômodo cedido a nós quando o proprietário pediu esse cômodo não tínhamos para onde ir. Foi quando fiquei sabendo do assentamento e viemos para cá, meu esposo que sempre trabalhou com agricultura enxergamos uma oportunidade de ter um lugar para trabalhar e educar nosso filho, isto foi em 2007.
NJ- Fala um pouco da sua trajetória profissional?
Quando meu filho fez três anos resolvi voltar a estudar. Na época tínhamos duas vacas, vendi as vacas e paguei o primeiro semestre da faculdade de Pedagogia. Eu levava meu filho todos os dias na Faculdade junto, a não ser em dias de muito frio que deixava ele com minha mãe que me ajudou muito para eu conseguir me formar. Passei no concurso público em Piracicaba e comecei a lecionei lá por quase dez anos.
NJ- E o direito como surgiu em sua vida?
Elisdete– No período da Pedagogia comecei a observar que precisava de alguém que corresse atrás das necessidades da comunidade, sempre tive vontade de cursar direito, assim acabei ingressando na Faculdade de direito da Faculdade Anhanguera. Quando a Anhanguera fechou em Limeira, transferiram-nos para a unidade de Santa Barbara do Oeste, no momento achei que não iria conseguir acaba o curso por questões de locomoção ficaria impossível devido as minhas condições financeiras. Foi quando uma amiga a Josefa Pereira me ofereceu carona e fui de carona até o último dia de aula do curso. Seis meses antes de eu terminar o curso prestei exame da (OAB) e fui aprovada, nesta mesma época fui candidata ao Conselho Tutelar, fui eleita e hoje além dos compromissos cotidiano estou Conselheira Tutelar em Limeira.
NJ- Como você encara esses ataques preconceituosos a você por ser uma Advogada, Pedagoga e Conselheira Tutelar e morar e fazer parte do movimento dos Sem Terras?
Elisdete– Continuo morando aqui no assentamento porque eu entendo que a gente quando está no lugar e se compromete a fazer a diferença não faz sentido você ter formação e desvencilhar de onde você está, tem que fazer a diferença no lugar. Eu faço parte desta comunidade vim para cá sem nada eu só tinha um filho para cuidar, hoje olho para trás e vejo como valeu a pena cada noite a luz de vela fazendo meu TCC à mão, cada situação difícil, cada lágrima que nós derramamos durante esse período, não foi fácil. Quando a gente coloca Deus na frente e está disposto a cumprir seu propósito pra o qual nós fomos designados ele honra e nos coloca onde ele nos promete. Hoje tenho duas graduações eu acho que temos que buscar formação continuamente.
NJ- O que vocês produzem aqui?
Elisdete– Aqui nós produzimos hortaliças, mandioca, leguminosas, como Beterraba, Berinjelas, Bananas. Na realidade a Agricultura Familiar é constituída de uma produção mista, então você tem variadas culturas, poderíamos estar produzindo mais, mas a falta de água é o grande empecilho. Nossa produção é totalmente orgânica sem uso de agrotóxicos, preservando o meio ambiente com preservação das matas. nós assinamos um TAC que é o Termo de Ajustamento e Conduta, onde nós se compromete a não usar insumos agrotóxicos no cultivo, e também nós vem plantando mudas de árvores nativas e tentando refazer a mata, quando chegamos aqui estava toda degradada a mata nativa.

NJ- quais os planos para o futuro do Assentamento?
Elisdete– Hoje nós estamos nas tratativas com a prefeitura de Campinas para fornecer nossos produtos para a Merenda Escolar Municipal. Claro que essa entrega vai começar pequena e ao longo do restante do ano a ideia e ir ampliando. Como lhe falei nosso problema maior é a falta de água para produzimos mais.
NJ- Me fale da Portaria que o governo Federal publicou sobre a destinação das terras do Horto Florestal para a Reforma Agrária?
Elisdete– Essa portaria cede para o INCRA por um período de dez anos prorrogáveis por mais dez anos uma área de seiscentos hectares, somados a essa área que estamos. Algumas outras estruturas que já estão construídas dentro do Horto Florestal, não estão incluídas a área social. Essa portaria vai ser importante do ponto de vista da ampliação da produção. Vale lembrar que as áreas onde tem o Espaço de Lazer, Aterro Sanitário, o Centro de Ressocialização como as demais estruturas não estão destinadas a Reforma Agrária.
Toda essa área pertence à União! Mas isso não quer dizer que a gente está se referindo a área social, ela permanece como está ninguém tem a intenção de tirar esse importante espaço de lazer da comunidade. Isso nunca foi cogitado. Aliás, não apenas área social do horto, mas outras estruturas como o CDP, o Aterro Sanitário, são estruturas que já estão sedimentadas ali. Nós não temos intenção de fazer uma ocupação e agir contra a legislação, estamos inclusive aguardando as orientações do Governo Federal para fazer qualquer movimentação, não há necessidade de causar um caos como estão fazendo.
Nj- Como os moradores estão vendo toda essa campanha de ódio contra a comunidade?
Elisdete– O pessoal está muito apreensivo e com muito medo por conta do despejo que sofremos uma vez quando Silvio Félix era o prefeito. Aqui é a casa deles, medo do nível reacionário que o Poder Público Municipal está tratando a questão.
Pedimos para as pessoas olharem para nós com um olhar mais humanizado, somos seres humanos, têm idosos, mulheres, crianças. E nós somos tão humanos como qualquer outro.
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