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Censura disfarçada de norma: a proibição das missas de padre Júlio Lancellotti

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Fernando Garayo- Jornalista- Ambientalista- Editor do njnoticias.com.br

A proibição da transmissão das missas celebradas pelo padre Júlio Lancellotti não é um episódio isolado nem meramente administrativo. Trata-se de um gesto político, simbólico e profundamente revelador de um incômodo crescente com uma fé que se recusa a ser neutra diante da desigualdade, da fome e da exclusão social.

Padre Júlio construiu sua trajetória pastoral ao lado dos invisíveis: moradores de rua, dependentes químicos, famílias empurradas para as margens da cidade. Sua liturgia não se limita ao altar; ela se estende às calçadas, aos viadutos, às periferias abandonadas pelo poder público. Ao transmitir suas missas, o sacerdote rompe o conforto da indiferença e expõe uma realidade que muitos preferem manter fora de cena — inclusive dentro das próprias estruturas religiosas.

A justificativa formal para a proibição pode até se apoiar em regras internas, critérios técnicos ou orientações institucionais. No entanto, o contexto revela algo mais grave: quando a palavra incomoda, a solução passa a ser o silêncio. Não se censura o rito, mas a mensagem. Não se questiona a fé, mas o compromisso radical com os pobres.

O padre Júlio não prega ódio, não incita a violência, não instrumentaliza a religião para fins eleitorais. Pelo contrário, sua atuação é um contraponto direto ao uso político da fé por setores que transformaram púlpitos em palanques e o cristianismo em discurso de exclusão. Ainda assim, é ele quem sofre a tentativa de contenção.

Proibir a transmissão de suas missas é uma forma sutil de afastar o Evangelho de sua dimensão mais incômoda: a denúncia das injustiças estruturais. É tentar reduzir a religião a um ritual desprovido de consequência social, esvaziado de sentido histórico. Um cristianismo domesticado, que não confronta, não questiona e não exige transformação.

Num país marcado por desigualdades extremas, silenciar vozes como a de padre Júlio Lancellotti é mais do que um erro institucional — é um desserviço ético. A fé que se cala diante da miséria deixa de ser fé e se torna ornamento. E toda vez que se tenta calar quem dá voz aos esquecidos, o que se revela não é zelo religioso, mas medo da verdade que ecoa além das paredes do templo.

A história mostra que nunca foi a mensagem confortável que moveu mudanças. Sempre foi a palavra que incomoda. E é justamente por isso que padre Júlio segue sendo necessário — dentro e fora das transmissões.

 


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