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Limeira

Meu Velho, Meu Faro

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Pai, Hoje o mar está mais quieto,
Como se soubesse que partiste.
Eu olho pro horizonte que tanto amavas
E vejo teu sorriso no brilho das ondas.
Lembro das tuas mãos largas
Sempre muito ocupadas,
Ensinando a segurar o lápis, a vida.
Eras firme sem ser duro,
sem perder a ternura, como diria o Che.
Na mesa, tua risada era a melhor comida.
Contavas histórias da vida dura,
Da pobreza que te moldou
Mas não te amargurou.
Ao contrário: tornou-te mais doce,
Mais humano, mais indignado.
Contavas também dos sonhos
Das lutas e da esperança que não cabia no papel
Que virara à esquina da História
Na urgência revolucionária do cotidiano que desaparecia.
Gostavas do simples:
Um trago, uma cerveja, uma conversa longa.
O livro na mesa ao lado da cadeira,
A neta no colo, o neto mostrando um desenho.
E tudo em ti dizia “estou aqui”,
Presente, inteiro, nosso.
Eras o porto seguro
Pra todos os navios rebeldes da família.
Acolhias os amigos, os desconhecidos,
Os perdidos, os encontrados.
Em tua casa ninguém era estrangeiro,
Porque tu transformavas todos em família.
Agora a cadeira da varanda está vazia,
Mas o eco das tuas histórias enche a casa.
O mar que tanto amavas continua batendo na praia,
Como o teu coração bate em nós:
Constante, forte, cheio de vida.
Levo contigo o jeito de olhar as pessoas,
De partilhar o pão, de indignar-se com a injustiça.
Levo tua ternura de guerreiro cansado,
Teu amor silencioso que falava através dos gestos.
Obrigado por cada beijo e abraço apertado,
Por cada bronca e conselho dado,
Pelas horas pacientes de escuta,
Por cada silêncio que dizia mais que mil palavras.
Obrigado por me mostrares que ser
É saber amar, é saber ficar, é saber partir.
Descanse em paz, meu velho.
Vou cuidar do mar que ficou nos teus olhos,
Da chama que acendeste em nós,
Do amor que plantaste em cada canto desta família.
Onde quer que estejas,
Fazendo sua travessia,
Espero que haja uma praia infinita,
Uma cadeira de frente pro horizonte,
E a certeza de que aqui,
Neste pedaço de mundo que tanto amaste,
Tu vives para sempre
No jeito que temos de amar,
De lutar,
De ser.
Teu filho: Flávio De Oliveira Lopes Cerqueira

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