
Por Israel Aparecido Gonçalves
Estamos a um ano das eleições para presidente da República, governadores, senadores, deputados federais e estaduais. Isso significa que, dentro de seis meses, os nomes que disputarão a Presidência já deverão ganhar maior destaque no cenário público. No campo da esquerda liberal, Lula do PT permanece como o principal nome e lidera as projeções para 2026 em diversos cenários. Já no campo da extrema direita, predominam incertezas, mas uma certeza é evidente: o nome de Jair Bolsonaro não estará nas urnas. Sua prisão preventiva deverá ser convertida em pena definitiva, e dificilmente ele estará livre ou elegível, pois está inelegível até 2030, para qualquer pleito.
A prisão do ex-presidente ocorreu após a tentativa de retirar a tornozeleira eletrônica em sua residência, descumprindo uma decisão do ministro Alexandre de Moraes. Ao danificar o equipamento, Bolsonaro assumiu o risco de precipitar a reorganização eleitoral dentro do campo da extrema direita. Seu filho, o senador Flávio Bolsonaro, percebendo a ausência de nomes competitivos capazes de vencer Lula em 2026 — especialmente porque Tarcísio de Freitas deverá concorrer à reeleição em São Paulo — passou a sinalizar publicamente a possibilidade de colocar seu próprio nome na disputa presidencial.
O sociólogo Max Weber apresenta um conceito central para compreender essa dinâmica: a dominação carismática. Na política, líderes carismáticos estabelecem com seus seguidores uma relação de identificação intensa, que gera obediência mesmo diante de contradições. A grande questão, nesse tipo de dominação, é a transferência do carisma. Em que medida Bolsonaro pode transferir seu capital simbólico a outro candidato — mesmo que seja seu filho? Lula conseguiu fazer esse movimento ao apoiar Dilma Rousseff, mas diferentemente de Bolsonaro, Lula não estava preso quando projetou sua sucessora.
Uma análise mais cautelosa expõe que o senador Flávio Bolsonaro não possui ainda a envergadura necessária para realinhar politicamente o campo da extrema direita. Falta-lhe uma base eleitoral mais ampla, como a que poderia ter um governador — talvez do Paraná, de Goiás ou de Minas Gerais. Com a direita dividida internamente, Lula poderá conduzir uma campanha mais direta e coordenar de forma mais eficiente sua própria base eleitoral.
Israel Aparecido Gonçalves é cientista político e escreve sobre Relações Internacionais, Conflitos e Direitos Humanos. Atualmente é doutorando em Sociologia e Ciência Política pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Mestre em Ciência Política pela Universidade Federal de São Carlos (UFSCar), é graduado em História e Filosofia. Organizou mais de 20 livros nas áreas de Educação e Ciências Humanas e possui 131 artigos de opinião publicados em diversos sites e jornais do país. Seu livro mais recente é “Sociologia e Direito – Volume 3”, lançado pela Editora Periodicojs em 2025.
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