
Israel Aparecido Gonçalves
Em 2026, Bolívia e Chile passam a integrar o grupo de países governados pela direita. Em um panorama mais amplo da América do Sul, considerando seus 12 países, seis estarão sob governos de orientação conservadora ou de direita nesse período.
Uma questão fundamental que transcende o debate ideológico é a preservação da democracia. A alternância entre direita e esquerda no poder é um indicativo de que o sistema democrático permanece funcional e estável, mesmo em contextos de forte polarização entre grupos políticos antagônicos.
No caso específico do Chile, José Antonio Kast, vencedor das eleições chilenas no último dia 14, é amplamente reconhecido por sua posição extremista. Seu perfil político o aproxima mais do governo de Javier Milei, na Argentina, do que de Santiago Peña, atual presidente do Paraguai.
As chamadas reformas econômicas liberais e de austeridade implementadas por Milei não resultaram em melhora significativa na vida da maioria dos argentinos. Embora tenha ocorrido uma redução da inflação (de cerca de 200% em 2022 para aproximadamente 118% em 2024) e o governo tenha alcançado um leve superávit primário, os custos sociais foram elevados. Houve aumento da desigualdade social e agravamento das condições de vida das camadas mais pobres da população.
É importante destacar que o governo de Kast tende a conduzir o Chile a um cenário marcado pela disseminação de fake news, avanço de privatizações e aprofundamento da desigualdade social, fenômenos já observados na experiência argentina recente. Além disso, há o risco de um alinhamento político e econômico assimétrico com os Estados Unidos, especialmente sob a liderança de Donald Trump, o que pode resultar na entrega de recursos estratégicos chilenos em condições desfavoráveis à população local.
Embora a vitória da direita no Chile não agrade a determinados setores políticos no Brasil, é ingênuo supor que a esquerda latino-americana seja homogênea ou compartilhe objetivos idênticos. Gabriel Boric, atual presidente chileno, possui uma política externa distinta da brasileira, especialmente no que diz respeito às relações com os Estados Unidos e com a Venezuela. Enquanto Boric adotou uma postura mais ideológica, Lula atua de forma mais pragmática, orientando sua diplomacia por interesses estratégicos e pela mediação política.
Israel Aparecido Gonçalves é cientista político e escreve sobre Relações Internacionais, Conflitos e Direitos Humanos. Seu livro mais recente é “Sociologia e Direito – Volume 3”, lançado pela Editora Periodicojs em 2025. Instagram @sou.profisrael
Descubra mais sobre NJ Notícias
Assine para receber nossas notícias mais recentes por e-mail.




