Saudades de uma infância

A chuva cai numa tarde de primavera, as folhas das laranjeiras vibram e acenam como se estivessem agradecendo aquela chuva que matava sua sede depois de meses de secura extrema.

É o espetáculo da primavera onde tudo renasce na natureza, o capim seco volta à vida, na relva as flores dão as caras depois de meses lutando para sobreviver o calor e falta de água para perfumar o ambiente e alimentar abelhas e outros insetos.

Os pássaros, rolinhas, pardais, pombas, e aves de varias espécies fazem seus bales depois da chuva a procura de alimentos. É a alegria pelo resurgimento da vida.

A garotada corre pega a bola de futebol e vão para o terrão de terra que antes era poeira se transformou em barro. A bola começa a rola logo o campo improvisado se transforma em lama. Em meio aquele lamaçal, não demora muito para a pelota ser abandonada toda solitária num canto, para dar lugar à lama. Molecada chuta a lama um no outro, o futebol agora é ver quem mais emporcalha uns aos outro.

As mães desesperadas em ver aquela situação esbravejam para seus filhos pararem com aquilo. Mas, não adiantava a brincadeira continuava. Ai vem àquela sonora frase de mãe. “Em casa vamos conversar”. Essa frase gelava a espinha e a barriga, sabíamos que não iria ter conversa. Era surra mesmo. E que surra! Na nossa infância surra era tentativa de homicídio. É caro leitor quem viveu uma surra como eu vivi, não sabe ainda como sobrevivemos a aquela tentativa de homicídio. E vale lembrar que não tinha Conselho Tutelar para reclamar.

Mas, foi uma infância feliz, sem luxo, sem brinquedos, tínhamos que fazer nossos próprios brinquedos com latas de óleo, latas de sardinha, latas de leite em pó.

Quantos carros e caminhões fabriquei com essas latas. Ficou a saudade apenas, muitos daqueles amigos já se foram para a eternidade, outros se mudaram para outras cidades. E a vida continua, e ela é curta demais para sofrermos. Então vamos aproveitá-la enquanto a temos.

Borá Lá. Vida que Segue!